Será que o Holocausto nunca ocorreu?
Um ensaio de Gordon McFee
Introdução
Este ensaio descreve, de uma perspectiva metodológica, alguns dos erros inerentes da abordagem "revisionista"(
1)
para a história do Holocausto. Não se tem intenção em ser uma polêmica,
tampouco intenta atribuir motivos. Ao invés disto, busca explicar o
erro fundamental na abordagem "revisionista", como também o porquê desta
abordagem necessitar em não dar nenhuma escolha.
Conclui-se que o "revisionismo" é um termo equivocado devido aos fatos
de não concordarem com a posição que apresentam e, em grande medida, sua
metodologia inverte a abordagem apropriada para a investigação
histórica.
O que é método histórico?
História é a narrativa registrada de eventos do passado, especialmente
aqueles que acerca de um período particular, nação, indivíduo, etc.
Reconta eventos com cuidosa atenção a sua importância, suas relações em
comum, suas causas e conseqüências, selecionando e agrupando eventos
sobre o terreno de seus interesses ou importância.(
2)
Pode ser visualizado disto que a história reconhece a existência de
eventos e fatos e busca entender como eles acontecem, no que eles
resultam, como eles são interconectados e o que eles significam.
As distinções precisam ser feitas entre fatos, análise e interpretação.
Fatos são comprovodamente eventos demonstrados de forma empírica cuja
ocorrência pode pode ser provada usando métodos evidenciais. Análise é o
método de determinar ou descrever a natureza de uma coisa por
determinando-se dentro de suas partes. Interpretação é o intento de dar o
significado de alguma coisa. Segue-se que aos fatos conduzem à análise
que conduz à interpretação. E se segue que cada estapa no processo é
mais subjetiva que a etapa anterior.
Neste contexto, a história é indutiva em sua metodologia, naquilo que
acumula os fatos, tenta determinar sua natureza e suas conectividades e
então intenta tecê-los dentro de um mosaico compreensível e com
significado.
O que é revisionismo histórico legítimo?
Em seu nível mais básico, revisionismo não é nada mais que o apoio à
revisão, o qual em si é o ato de revisar, ou modificar algo que já
existe. Aplicado à história, isto significa que historiadores questionam
a versão aceita das causas ou as conseqüências de eventos históricos.
Como tal, é uma parte importante e aceita do esforço histórico que serve
ao redobrado propósito da constante reexaminação do passado enquanto
também aumenta nosso entendimento dele. Certamente, se alguém aceita que
a história intenta nos ajudar a melhor entender o presente por uma
melhor compreensão de como chegamos aqui, o revisionismo é essencial.
Três exemplos de revisionismo histórico legítimo devem bastar para ilustrar isto:
1. A.J.P. Taylor aplicou uma nova interpretação aos eventos que
conduziram à segunda guerra mundial. Ele miniminiza o papel de Hitler
naqueles eventos - the Anschluß(Anschluss, anexação)com a Áustria, a
anexação dos Sudetos, a crise de Danzig, o papel dos Aliados,
appeasement - comparados ao padrão de interpretação, enquanto retratou a
Alemanha nazista como muito menos centralizada e monolítica que a
regra. (
3)
2. Daniel Jonah Goldhagen questionou virtualmente todas as
interpretações habituais das razões para a cumplicidade de muitos
alemães na perpetração do Holocausto, e assinalou aquele desejo próprio
comum aos alemães que os envolvia devido a existência de um profundo e
enraizado anti-semitismo eliminacionista nos alemães daquela era. Ele
minimiza, ou senão indiscutivelmente rechaça, a influência de Hitler e
do Partido Nazista. (
4)
3. O historiador alemão Christian Gerlach interpretou um diário de
anotações de Joseph Goebbels e um recém descoberto diário de Heinrich
Himmler para demonstrar que a data da decisão de Hitler para exterminar
judeus foi em dezembro de 1941 ao invés do final do inverno ou início do
verão como muitos até então acreditavam. (
5)
O que fazem os "Revisionistas"?
"Revisionistas" partem de uma conclusão de que o Holocausto não ocorreu e
trabalhar a reversão através de adaptar os fatos para que pre-ordenem a
conclusão. Posto de outra forma, eles invertem a própria metodologia
descrita acima, e deste modo voltando o próprio método histórico de
investigação e análise nesta direção. Isto não quer dizer que
historiadores nunca partam de um resultado preconcebido ou desejado;
Eles freqüentemente o fazem. Mas observando rigorosamente a metodologia
correta, aceitam que o resultado de sua investigação pode não ser o que
eles previram no início. Eles estão preparados para adaptar suas teorias
àquela realidade. Certamente, eles são freqüentemente requeridos a
revisar suas conclusões baseadas em fatos. Para pôr isto trivialmente,
"revisionistas" invertem os fatos baseados em sua conclusão.
Desde que os "revisionistas" partem da conclusão de que o Holocausto não
ocorreu, i.e., eles negam sua existência e são freqüentemente chamados
de "negadores". Em vez de analisarem eventos históricos, fatos, suas
causas e conseqüências e suas interações com outros eventos, eles
defendem uma conclusão, independente dos fatos se sustentarem ou não.
O porquê deles fazerem isto não é objeto deste texto, mas pequenos
exemplos das distorções, evasivas e negações forçam-nos a ilustrarem
como intelectualmente desonesto isto é. E isto deveria ser relembrado,
de que eles os forçam a isto, ao fato de que os "revisionistas" negarem
uma ocorrência histórica distorcendo os fatos de acordo com aquela
negação.
A Teoria de Conspiração
Desde que os fatos não estejam de acordo com a conclusão "revisionista",
eles podem encontrar um ponto de vista mais abrangente ou uma forma de
rechaça-los. Isto não é uma simples tarefa, desde que os fatos convirjam
ao resultado de que os nazis tinham de fato um plano para exterminar o
povo judeu europeu, alcançado em grande parte pela sua execução, e
deixam pra trás numerosas evidências deste intento. (
6)
Portanto, os "revisionistas" tem qe alegar que há uma conspiração para
fabricar todas aquelas evidências - uma conspiração que deu início a seu
trabalho antes do final da guerra - e uma que continua até o presente.
"Judaria Organizada" ou muitas das variantes dos "Sionistas" estão na
raiz desta conspiração. A teoria de conspiração manifesta os seguintes
posições artificiosas:
. testemunhas sobreviventes mentiram, até onde sua evidência era corroborada por documentos ou outras fontes;
. evidência do perpetrador foi obtida através de tortura, medo por seus familiares ou falsificada de várias formas;
. documentos deixados pra trás pelos nazis foram falsificados, não querem dizer o que eles aparentam dizer, ou são forjados;
. fotografias foram falsificadas;
. filmes foram falsificados;
. palavras não querem dizer o que aparentam dizerem. Quando Himmler usou
a palavra "ausrotten" (exterminar) em relação aos judeus, ele não quis
dizer realmente "exterminar". Quando
Hitler usou a palavra "vernichten" (aniquilar) em relação aos judeus, ele não quis realmente dizer "aniquilar". Quando os
Einsatzgruppen
falaram das mulheres e crianças judias assassinadas, eles realmente
queriam dizer partisans, mesmo que partisans tivessem listas separadas
nos muitos relatórios que eles deixaram pra trás;
. discursos gravados foram falsificados. O discurso de 1943 de Himmler
em Posen, que foi gravado, não era realmente sua voz, ou partes foram
adionadas mais tarde, ou a tecnologia para gravar não existia em 1943
(ou existia), ou discordava das notas de Himmler para o discurso(ou
não);
as vítimas eram responsáveis por aquilo que ocorreu a elas. As mulheres e
crianças judias eram partisans ou eram culpados de cometerem crimes
atrozes, ou ambos;
Judeus mereceram o tratamento duro de qualquer forma. Mesmo que o
Holocausto tivesse ocorrido, e isto seria contudo justificado porque os
judeus são alienígenas, raça parasita, determinados em distruir o nobre
ariano, e/ou profanarem seu sangue, etc.;
. se nenhuma ordem escrita por Hitler para o Holocausto pode ser encontrada, não houve nenhuma ordem para isto;
. nenhuma câmara de gás está funcionando atualmente. portanto, nunca
houve câmaras de gás. Mas mesmo que tivessem existido câmaras de gás,
elas foram usadas apenas para fumigar roupas, mesmo que elas estivessem
num depósito de cadáveres.
Falsus in Uno, Falsus in Omnibus (Falso em um ponto, falso em todos)
Desde que, como esta lista mostra, uma quantidade de evidências
empíricas para o Holocausto são tão claras e devastadoras, os
"revisionistas" tem que se lançar em outro truque para desqualificação.
Isto tem sido chamado de condição "falsus in uno, falsus in omnibus"
(uma prova errada equivale a todas as provas estarem erradas). Isto quer
dizer, por exemplo, que se qualquer singular pedaço de evidência de
sobrevivente puder ser apresentada como errada, todas as evidências dos
sobrevientes estarão erradas e isto pode ser rechaçado. Se qualquer
oficial nazista mentiu sobre um aspecto do Holocausto(dentro da questão
ou não), todos os oficiais nazistas mentiram, e qualquer coisa que os
nazistas disseram depois da guerra é rechaçado. Se qualquer nazista
puder ser mostrado por ter sido torturado ou maltratado, todos eles
foram e qualquer coisa que disseram é inválida.
Conclusão
O "revisionismo" é obrigado a se desviar do padrão metodologia histórico
perseguido, porque busca moldar fatos para se adequar a um resultado
preconcebido, nega eventos que foram objetivamente e empiricamente
provados que ocorreram, e porque funciona ao reverso, da conclusão para
os fatos, de modo a necessitar da distorção e manipulação daqeles fatos
onde eles diferem da conclusão preordenada (algo que eles quase sempre
fazem). Em poucas palavras, o "revisionismo" nega alguma coisa que de
forma demonstrável aconteceu, através de desonestidade metodológica.
Sua desonestidade ética e motivação anti-semita são questões que ficam para outro dia.
Notas
1. As menções sobre os "revisionistas" não são apenas citações. Elas
indicam que metodologicamente os "revisionistas" não são o que eles
afirmam ser. Isto é explicado em detalhe ao longo do ensaio.
2. Funk & Wagnall's Standard Dictionary of the English Language, Volume 1, New York, 1973, p. 599.
3. A.J.P. Taylor, The Origins of the Second World War, Penguin Books, Middlesex, 1964.
4. Daniel Jonah Goldhagen, Hitler's Willing Executioners: Ordinary
Germans and the Holocaust(Carrascos Voluntários de Hitler), Alfred A.
Knopf, New York, 1996.
5. Die Zeit, edition of January 9, 1998. Seus achados são reportados em Zeitschrift Werkstatt Geschichte, Heft 18/1997.
6. Ver a propósito "Hilberg, The Destruction of the European Jews;
Gilbert, The Holocaust; Yahil, The Holocaust; Dawidowicz, The War
Against the European Jews 1933-1945; Breitman, The Architect of
Genocide; Less, Eichmann Interrogated; Fleming, Hitler and the Final
Solution; Broszat et al., Anatomie des SS-Staates;" e muito mais.
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Leitura sugerida: de Pierre Vidal-Naquet,
A Paper Eichmann: Anatomy of a Lie(Um artigo para Eichmann: Anatomia de uma Mentira), em particular a parte 4,
On the Revisionist Method(Sobre o método "revisionista").
Gordon McFee concluiu seu mestrado em 1973, na Universidade de New
Brunswick, Canadá, e na Universidade de Albert Ludwigs, Freiburg im
Breisgau, Alemanha (estudos separados), em história e alemão.
Última modificação: 15 de maio de 1999
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Technical/administrative contact:
webmaster@holocaust-history.org
Fonte: The Holocaust History Project
http://www.holocaust-history.org/revisionism-isnt/
Tradução: Roberto Lucena
Fonte em português e mais informações:
http://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=revisionismo
Informações sobre o Holocausto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Holocausto
Os anti-semitas causaram o Holocausto, mas agora, eles estão negando o que eles mesmo fizeram.
Deus abençoe os Judeus e Shalom!